RUGIDO VERDE

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Sábado, Abril 20, 2024

A Fábula do Capitão Gaitadas – o Rei do Grémio

Era uma vez um menino muito especial, nascido lá no país de Parvónia, no seio de uma família muito bem aparvalhada, como o próprio país, que um dia decidiu que queria ser o Rei lá do Grémio. O Grémio era o clube mais elitista da sociedade, apesar de fundado 100 anos antes por um elitista que queria estender a sua ligação à “elite meritocrática”. Um ultraje aos olhos do menino Gaitadas! Tal não podia suceder… A “elite por decreto” é que é a verdadeira e senhorial e justa dona das coisas e de tudo. A restante plebe nunca terá direito a ser elite mesmo que seja infinitamente superior! Simplesmente nunca foram decretados e, como tal, investidos dessa capacidade divina que é… Ser-se elite. Seja lá o que isso for.

Então vou contar-vos a história do menino Gaitadas e da sua ascensão até à liderança do Grémio – o seu sonho de criança (sonhado aos 30 e tal anos).

O menino Gaitadas – vamos chamá-lo de Salvador, é um nome chique e é simultaneamente o que ele acha que é, portanto fica-lhe ironicamente bem – era um jovem elitista decretado que, desde cedo, achou piada a ver 22 mânfios correrem atrás de uma bola enquanto suavam desaustinadamente para a enfiarem no rectângulo da outra equipa. Devia achar aquilo sensual, não sei! O seu apreço pela prática de exercício físico intenso, praticado pelos outros, pelo menos, tornou-se parte integrante da sua vida e personalidade. No seio familiar, apanhava lições de elitismo à moda da debacle dos anos 80, em que as elites em decadência de Parvónia pavoneavam o que ainda podiam pavonear desde que tiveram que se democratizar uma década antes…

O menino Gaitadas foi crescendo com a sensação que era uma “ganda cena”, fosse nos estudos ou noutros desempenhos, nunca percebendo que vivia uma ilusão. Ilusão essa que assentava precisamente no apelido Gaitadas – o papá Gaitadas era uma figura com alguma proeminência nos meandros da “elite por decreto” e conseguiu que, à falta de capacidade do filho lindão e espectacularzão, ele lá entrasse para uma daquelas licenciaturas habituadas a ser só da elite nos tempos da outra senhora. Aparentemente, na idade académica do menino Gaitadas, o acesso a esse tipo de licenciaturas já estava muito – demasiado até!, dirá ele – democratizado. Imagine-se! Entrar em cursos de responsabilidade “elitista” por mérito! Ao que este país de Parvónia chegou!

Não houve mal! O papá Gaitadas conseguiu metê-lo numa das instituições que também era arauto da “elite por decreto” desde os tempos primórdios. Foi para a Ordem dos Cavaleiros a Penantes de Parvónia aprender a nobre arte de tratar os outros – ainda melhor se forem da elite!

Lá conseguiu entrar, por decreto claro, na Ordem e lá aprendeu os tratamentos precisando de mais 16% de tempo que os outros. Embora ele queira esconder isso actualmente – é a velha história da ilusão.

Terminadas que estavam as aprendizagens académicas, um forte sentimento acometeu o agora Doutor Gaitadas! Queria ser Chefe dos Tratamentos de algum grupete jeitoso… Que mais tarde lhe abrisse as portas a ser Chefe dos Tratamentos do Grémio! Um dos seus locais de eleição em puto para se pavonear com familiares e outros amigos estarolas da elite. Além disso, o Grémio estava a perder imenso pedigree de elite nos últimos 20 anos, recuperando lentamente uma matriz mais popular à medida que os “project finance” das elites do agrado da família Gaitadas iam deixando tudo cada vez mais depauperado e falido. Não podia ser!

Decidiu então, na madura idade de 12 anos mentais, tornar-se Chefe dos Tratamentos da Associação do Choco Frrrrito. E, em quase tanto tempo de actividade como o Coronavírus-2019, conseguiu através de uma aparente golpada, tomar o posto de Chefe de Tratamentos do Grémio – muito contra a vontade do anterior Chefe que se sentiu fortemente atraiçoado. Sabe-se lá porquê. Toda a vida do Gaitadas era um verdadeiro exemplo de mérito até agora!!

Não tardou a haver uma revolução no Grémio, fartas que estavam as massas do domínio elitista bacoco dos “de decreto”. Instalou-se uma maior confiança e mais e melhores condições para a futura bonança do Grémio – a evolução e crescimento era notória – mas nem isso acalmou a sanha do agora Capitão Gaitadas (nunca deixou de evoluir milagrosamente em nada, um verdadeiro multitasker!). Eram frequentes as boquinhas, desmerecimentos e insultos do Gaitadas em relação aos seus
superiores… Mas sempre pelas costas! Que o Gaitadas nunca perdeu a dignidade e elegância de fazer tudo pelas costas! Pela frente é peixeirada e isso sempre foi coisa de plebeus.

Decidiu então aliar-se ao seu amigo Grilo Bem Falante, um refinado catavento judicial, capaz de mudar os ventos da justiça como se fosse um Ventoinha de Sete Rios para atingir o seu novo objectivo, agora que Chefe dos Tratamentos já não era suficiente para lhe pagar as contas de elite.

Uma golpada no Grémio foi planeada, e ainda melhor executada, derrubando por fim a direcção plebeia que estava a alavancar o dito clube. Tudo com o auxílio de outros elitistas “por decreto” falidos e que nunca morreram, ficaram antes em intervalo de putrefacção a disfarçar a sua acalmia, e por outros plebeus que gostariam de ser decretados também mas que nem a isso chegarão um dia.

Contudo, a aventura como Rei do Grémio foi bem mais difícil difícil que o Gaitadas esperava… Enquanto houve contas-corrente para desbaratar deixadas pelos plebeus atraiçoados ainda se fez uma ou outra brincadeira assente no trabalho dos escorraçados. O pior foi depois. A hecatombe incompreensível de um reinado de alguém que sempre subiu a pulso e com imenso mérito. Incompreensível! Ou não…

Não mencionei acima que o Gaitadas já vivia na ilusão em miúdo? Mencionei.

E é essa a moral da história: não vivam na ilusão e, ao mesmo tempo, não sejam completos arrogantes e prepotentes, com a mania que sabem tudo e que é tudo “fácil fácil”, nem que tenham que apunhalar pelas costas todos os que trabalham melhor que vocês mas não pertencem à vossa casta DDT. Ou então acabam mal.

Texto por: Valentino de Carvalho

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Comments

  1. HULK VERDE

    “Nem funfum nem gaitinha”… ou melhor, Gaitadas!