RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quinta-feira, Março 28, 2024

A Pós-Época

No próximo Domingo arranca oficialmente a época desportiva 2019/2020 para o Sporting Clube de Portugal. A primeira integralmente preparada sob a presidência de Frederico Varandas, o médico que saltou da carruagem para a casa das máquinas com o intuito de travar o comboio que seguia em direcção ao precipício. 

Desse cenário tenebroso que nos tentaram impingir, enfadonha e fastidiosamente durante semanas a fio, logo saltou o clube para a Pós-Época, uma espécie de Iluminismo Desportivo depois das trevas. Uma inovação nascida desta direcção, portanto. De entre muitas. Outra foi um médico de um clube ser candidato antes mesmo de haver eleições.

E, se em matéria governativa Iluminista a Prússia teve Frederico, o Grande; o Sporting tem em pleno novo milénio Frederico, o Pequeno. Uma citação que demonstra o apreço de Frederico, o Pequeno, pela razão em detrimento do dogma, é a célebre “não quero acreditar que o Cashball seja verdade, mas acredito muito menos em teorias da conspiração”. Infelizmente, por manifesta má vontade da federação de andebol, parece que era mesmo uma teoria da conspiração. Os génios têm destas coisas, por vezes são incompreendidos…

Também os escoceses pagariam para ter uma versão revista e melhorada de Adam Smith, uma vez que Salgado Zenha em vez de “A Riqueza das Nações” teria escrito um mais pomposo “O All in das Nações”. Ali se descreveria a forma de um governo usar todos os seus recursos de forma irresponsável, conseguindo ainda assim deixar pecúlio suficientemente apetecível para quase uma dezena de futuros candidatos às funções. Teria dado imenso jeito para a Primeira República, convenhamos.

Além de inovarmos, ainda introduziríamos melhorias a figuras da História da Humanidade. Aliás, ímpeto revisionista é coisa que não falta a esta direcção.

Salvos por fim das garras tiranas e obscuras da anterior direcção, temos então o período que tem sido constantemente descrito como tempo de revitalizar. Novas ideias, novos métodos de trabalho, novas competências, enfim um admirável mundo novo de revitalização do qual Frederico Varandas parece não querer sair. Tudo o que possa correr mal, e corre, pode ser atribuído ao processo de revitalização em curso. Uma espécie de PREC, mas ainda mais atabalhoado e rumo a coisa nenhuma. O que é sempre conveniente, quando a competência ou as boas intenções não abundam.

Mas, pergunto com admiração: revitalizar de quê, como e para quem?

Convém dizer que, em rigor, o circo, perdão a Pós-Época, começou a ser gizada há cerca de um ano, com o saneamento de alguns jogadores, do qual Viviano é caso paradigmático. Continuou com empréstimos e borlas que hão-de ter bem servido a muita gente, mas não ao Sporting decerto, casos de Montero e Nani, entre muitos outros. E teve o seu ponto alto na valorização de um jogador pelo dobro do seu valor de mercado (já dúbio, diga-se), de nome Vietto, o qual marcou nas últimas duas temporadas espantosos 6 golos. Menos um do que Coates, um dos nossos centrais, no mesmo período. Talvez o facto de ter vindo do Atlético e estar incluído no pack amizade Gelson ajude a explicar a generosa avaliação.

Não me irei alongar muito sobre valorização de jogadores, saídas ou empréstimos, antes vos convido a seguir atentamente o Rugido, uma vez que um destes dias terão informação compilada e devidamente analisada, sobre a área financeira.

Volto sim à primeira questão, revitalizar de quê?

De uma debandada de funcionários (a Cândida Vilar não aprova este termo…) do clube orientados por gente sem escrúpulos, com o agora líder à cabeça? Não havia nada a revitalizar, senão as personagens sinistras que gravitavam em torno do clube e o invadiram entretanto.

E revitalizar como?

Cultivando ideais e acções revisionistas, escorraçando e ostracizando sócios e adeptos que tanto deram sem pedir nada em troca? Acentuando e criando novas clivagens, num clube já pródigo em divisionismo? Semeando a suspeição que no programa eleitoral era ponto de honra? Colocando no terreno soldadinhos de chumbo de uma patética, mas bem dispendiosa, assessoria de comunicação?

Falhando repetidamente todos os pontos assentes em campanha eleitoral e, para citar dois exemplos, onde está a estrutura de topo do futebol e a política de contratações certeiras para posições-chave? Em pouco mais de seis meses, temos o equivalente a uma equipa inicial feita apenas de entradas, correspondentes a umas boas dezenas de milhões de euros. Nada mau para uma Pós-Época do tempo da desgraça…

Por outro lado, jogadores da formação foram sendo dispensados. Alguns estranhamente face ao que que puderam mostrar. De resto, parece que Keizer é da mesma opinião, a julgar pelas recentes declarações no rescaldo do jogo com os espanhóis.

É a isto que chamam revitalizar?

Aliás, revitalizar para quem?

Contam os mais velhos, meio a sério, meio a brincar, que em certa ocasião lá pelos tempos que não deixaram saudades (pelo menos à maioria), incumbiu Salazar a um ministro seu a missão de encontrar alguém insuspeito para colocar no Banco de Portugal.

O diligente ministro trouxe-lhe então um nome forte, credível, pessoa afamada e de boas famílias. Quando comunicou a possível escolha ao presidente do conselho, este perguntou-lhe: “Mas não era esse fulano que estava à frente daquela empresa têxtil que faliu?”. Desarmado, mas com jogo de cintura, o ministro retorquiu: “Sim, era, Sr. Presidente, mas olhe que a conjuntura não estava de feição, depois houve um incêndio na fábrica, entretanto processos em tribunal, pronto, digamos que o homem teve azar”.

Salazar franziu o sobrolho, pensou mais um pouco e voltou à carga: “Então, olhe lá, e aquela conserveira que tinha 100 trabalhadores e depois fechou, quem é que mandava naquilo?”. O ministro voltou a inquietar-se, mas argumentou: “De facto era este meu amigo o director, Sr. Presidente, foi naquela altura que houve uma trapalhada com os espanhóis, depois parece que os maiores clientes não pagavam, uma confusão segundo ele me contou…não teve muita sorte lá, não…”.

Irritado com tanta desculpa, disse então o presidente do conselho: “Caramba homem, então esse seu amigo é pessoa tão competente e rigorosa, um poço de virtudes, mas tem-no perseguido algum azar…E você quer trazer o azar para o Banco de Portugal?”

O Banco de Portugal é agora o Sporting, os restantes intervenientes deixo à vossa consideração!

Artigos relacionados

Comments

  1. Temos os sócios mais acéfalos do planeta!

  2. HULK VERDE

    A roçar a perfeição, apenas um reparo, o Vietto veio do Atlético., no tal negócio conjunto com o do Gelson Martins, que foi depois vendido ao Mónaco segundo consta por 30 milhões.

    1. Lionclaw

      Correcção feita. Obrigado por estar atento

  3. Rei Leão

    Muito bom texto. Faz aqui algumas analogias bem a propósito. Deve ser bastante gratificante para quem chega agora conseguir entrar num PREC quando quem chegou há seis anos o que encontrou foi um PER em cima da mesa.